O melhor presente

O dia das crianças está se aproximando e com ele, os sonhos de consumo de nossos filhos vão ficando cada vez mais pedidos, lembrados insistentemente.

Devemos dar sempre o que eles pedem? Temos como dar? Dividiremos, nem que seja em cinco vezes no cartão, apenas  para vê-los felizes?

Ou temos certeza de que os brinquedos tão “sonhados” serão rapidamente esquecidos e ficarão jogados no quarto alguns dias depois?

Convenhamos, as crianças são muito assertivas no que querem. Elas apresentam explicações plausíveis para nos lembrar, todo o tempo, os seus anseios. E sempre, cedemos.

O problema não está em ceder ou comprar o que podemos comprar. Brincar é essencial para o desenvolvimento das crianças. A questão é o que fazemos depois disso.

Uma vez, enquanto eu trabalhava com crianças da educação infantil como professora, era véspera do dia das crianças e eu pedi: Vamos fazer um desenho do que você mais queria dos seus pais no dia das crianças?

As crianças , com 3 e 4 anos na época, se esmeraram em produzir seus desenhos. Trocavam as cores, ajeitavam de um lado, de outro, empolgadíssimas. Ao final foram falando o que desenharam e eu, escriba delas, fui registrando.

_ Quero sentar no colinho da mamãe para assistir desenho na TV!

_ Quero jogar bola com o meu pai!

_ Quero encher balões com água e jogar com meus pais e meu irmão!

_ Quero que a mamãe pegue em meu cabelo até eu dormir…

_ Quero ouvir uma história antes de dormir…

_ Quero que a mamãe faça brigadeiro pra mim!

Esses desejos, tão simples, me marcaram profundamente. Na época eu tinha menos de vinte anos e nem sonhava em ter filhos. Trabalhar com crianças inspira e ensina de tal forma, que isso ficou selado no formato de educação que pratico hoje, enquanto mãe.

“O essencial é invisível aos olhos”, escreveu sabiamente Saint Exupéry.

Eles querem atenção. Apenas isso. Não são os brinquedos da moda, nem os que ‘todo mundo tem’ que farão nossos filhos mais felizes. Somos nós, os pais. Desocupados, brincando com eles, olhos nos olhos, celulares silenciados ou desligados – de preferência há metros de distância.

Pais altruístas. Dispostos  a deixar seus interesses pessoais  por um tempo para se  deitarem no chão, aprenderem  a andar de skate, jogar bola, colar figurinhas no álbum ,  soltar pipa no parque. Montar os brinquedos novos, com eles. Parar por um tempo em nossas rotinas malucas para efetivamente sentir o que sentem nossos filhos, no dia deles. Afinal, a nossa presença é sempre o melhor presente.